A importância da língua portuguesa e da leitura para a formação profissional
Entre os dias 23 e 29 de outubro, comemorou-se a Semana Nacional do Livro e da Biblioteca, e, no dia 05/11 foi o Dia Nacional da Língua Portuguesa. Por isso, a Assprom entrevistou a coordenadora e professora do curso de Letras – Tecnologias da Edição no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET/MG), Alcione Gonçalves, e o ex-adolescente trabalhador, professor e escritor, Marcos Roberto do Nascimento para falarem sobre a importância da Língua Portuguesa e dos livros na formação integral de jovens aprendizes.
ALCIONE GONÇALVES
Qual a importância do domínio da Língua Portuguesa para jovens e adolescentes que querem se destacar no mercado de trabalho?
Em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo, ter domínio do português padrão é mais uma das estratégias para se destacar. Empresas têm exigido, cada vez mais, que seus funcionários saibam redigir um texto com clareza, correção gramatical, coesão e coerência. Saber a gramática normativa é apenas um dos aspectos necessários para o domínio da escrita. No entanto, não há como aprender a escrever e se comunicar de forma clara sem a prática. Um dos caminhos para isso é a constante leitura. Quem lê, desenvolve múltiplas habilidades que poderão ser favoráveis em seu ambiente de trabalho e que poderão auxiliar o trabalhador a se destacar.
De que forma o ensino de Português pode se tornar mais atrativo para esse público?
A grande questão é que os cursos chamados de “Língua Portuguesa” focam muito no Ensino de Gramática Normativa. Sabemos que o estudo de normas gramaticais não é tarefa fácil e demanda tempo e até mesmo anos de dedicação. Para atendermos às demandas de um público cada vez mais exigente e imediatista, é necessário que os professores de língua materna levem a seus alunos o conhecimento da estrutura da língua, mostrando os múltiplos aspectos que constituem qualquer língua natural, ou seja, é preciso trabalhar, basicamente, a leitura e a escrita. A constante prática de leitura e escrita traz à tona as dificuldades dos alunos e, dessa forma, o professor poderá trabalhar essas lacunas. É preciso deixar claro que cada turma de aprendizes apresenta uma demanda. Há aqueles que querem aprender para a realização de concursos público, outros por que querem fazer o Enem, outros por que sua empresa exige uma qualificação nesta área. Diferentes públicos, diferentes abordagens e diferentes metodologias.
O ‘internetês’ é uma linguagem oficial usada nas redes sociais. Alguns especialistas são contra e outros são a favor. Qual a importância
dessa linguagem e de outras para o avanço da própria Língua Portuguesa?
Não há como “barrar” o avanço dessas novas tecnologias e muito menos tentar cercear essas novas formas de comunicação. O importante é dar a todos a compreensão de que cada ambiente, seja ele virtual seja ele no mundo real, exigirá diferentes formas de comunicação. Falantes e produtores de texto precisam entender que a situação de comunicação será sempre diferente e cabe a eles distinguir esses contextos. É notório que não se deve conversar com um chefe da mesma forma que se conversa com amigos em uma mesa de bar. Falares diferentes para ambientes diversos.
A leitura ainda é o melhor caminho para se ler e escrever bem?
Certamente, a leitura, além de ser prazerosa, é um dos caminhos para esse longo aprendizado de escrita e aprendizado. Não nascemos dominando nossa língua materna. Esse domínio somente será efetivado com a prática. A família e a escola têm um papel fundamental no incentivo à leitura. Crianças que desenvolvem o gosto pela leitura possuem grandes chances de desenvolver uma relação mais prazerosa com a escrita. Relação essa muito complicada para a maioria das pessoas.
MARCOS ROBERTO DO NASCIMENTO
Você tem uma trajetória na Assprom. Hoje, é professor e escritor. O que a Língua Portuguesa representa em sua vida?
Tenho um certo encantamento pela Língua Portuguesa e Brasileira. Esse encantamento se dá pela diversidade dos nossos falares, múltiplos sotaques, sonoridades plurais, aqui nas terras tupiniquins e além-mar. Encanto-me também pela complexidade de nossa língua. Entre os padrões culto e coloquial, entre o escrito e o oral há um universo de possibilidades. Os nossos escritores de Língua Portuguesa, do Brasil e demais países falantes de nossa língua – Portugal e os africanos em especial – demonstram isso em suas obras com absoluta riqueza e criatividade. Eu sempre tive bons professores e professoras de Língua Portuguesa que me fizeram navegar nesse oceano de beleza e riqueza. A literatura e a música brasileiras exploram também a riqueza de nossa Língua. Não há como não se encantar por ela.
Atualmente, você tem escrito muitos livros infantis. Na sua opinião qual a importância dos livros na formação de crianças e adolescentes?
Meu trabalho explora os sentimentos, a memória, a sensibilidade e a criatividade dos leitores e leitoras. Aliado ao meu texto, eu trabalho com a imagem, uma outra linguagem que dialoga com os meus textos. Esses elementos combinados criam um universo propício à imaginação criativa e transformadora. Primeiro, a transformação do próprio sujeito leitor. Depois, ele ou ela podem fazer o que quiserem com sua imaginação desperta. Os livros e a leitura têm esse papel de despertar nos jovens leitores e leitoras essa imaginação mágica, potencialmente transformadora. Tenho visto meus livros despertarem muita criatividade em crianças e adultos também. Já fizeram músicas inspirados neles; adaptação para o teatro em escolas; criaram outros textos a partir deles etc. Os livros e a leitura mexem com a gente, nos tiram do lugar-comum. Acho isso importante para que algo novo brote nos leitores e leitoras. E esse germinar constante pela leitura é mais do que formar alguém – crianças, jovens ou adultos – é criar novas possibilidades.
Como ser editor e escritor de livros no Brasil?
É um grande desafio e será ainda maior nos novos tempos que se avizinham a partir de 2019. Mas eu posso falar desse lugar como editor de uma microscópica editora, a MRN Editora. É importante destacar isso porque o universo de produção de livros é bastante complexo. Dentre as pequenas editoras, temos uma grande diversidade de interesses, uma pluralidade de escolhas estéticas (das artesanais às convencionais), diferentes gêneros literários, estratégias distintas de mercado etc. Isso, evidentemente, vale para as grandes também, mas com lógicas e impactos de produção, comercialização e distribuição muito distintos. Como editor, vou correndo por fora desse circuito tentando ser criativo, produzindo livros com qualidade editorial e gráfica para atingir um certo nicho. O que não é nada fácil. Como escritor a lógica é outra. O texto é algo que se constrói a partir das ideias e dos sentimentos, do espanto e do encantamento. É algo solitário, mas cheio de emoção. Quando escrevo penso só na história, nos personagens, nos desafios impostos pela língua e pela linguagem. É ao mesmo tempo divertido e angustiante. O texto, às vezes, me engole. Acho que os desafios do escritor são diferentes dos do editor. Mas isso não me atrapalha. Mesmo diante dos desafios que a realidade brasileira nos impõe hoje, a literatura – as artes de maneira geral – é um lugar de resistência e afeto. Por isso gosto muito de tudo que faço. Hoje, me desdobro entre o lecionar, o escrever e o editar. Sou muito feliz porque estou em constante aprendizado e meu espírito se renova e se fortalece todos os dias.
Em virtude dessas duas datas, temos o que comemorar em nosso país?
Apesar das distintas motivações para cada uma dessas celebrações, acho que é sempre uma oportunidade para reflexão. Eu vou muito a escolas do Ensino Fundamental, tanto no setor público quanto no setor privado, e posso garantir que professoras, professores e bibliotecários têm buscado fazer o melhor ao longo do ano. Há atividades literárias nas escolas durante todo o ano e essas datas comemorativas servem para reforçar essas práticas em muitos casos. Acho que temos que avançar muito especialmente no que diz respeito à valorização dessas práticas e dos profissionais que buscam desenvolvê-las. É preciso de mais recursos para ampliação e renovação de acervos nas bibliotecas das escolas públicas, criação de programas de incentivo à leitura nos múltiplos espaços (bibliotecas, centros culturais, pontos de cultura, escolas, bienais, salões de livro etc.) e, atrelado a isso, a formação contínua de contadores/as de histórias. Esses programas têm que ser contínuos ao ponto de a família também ser revigorada com o encantamento dos livros e das leituras.
Projeto Voe Livro
A Assprom realiza o Projeto Voe Livro para adolescentes, jovens e funcionários da entidade. O Projeto consiste em espaços, onde as pessoas podem ler diversos títulos, além de levar pra casa. A ideia é fazer com que os livros circulem. Os livros são trocados e doados. Atualmente,o Projeto é desenvolvido, também, na Cidade Administrativa de Minas Gerais (CAMG) e vem sendo implementado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
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