Assprom e Instituto Nacional de Câncer alertam sobre os malefícios do tabagismo
Hoje, 29/08, é comemorado o Dia Nacional de Combate ao Fumo. Em entrevista exclusiva ao Jornal da Assprom, a chefe da Divisão de Controle do Tabagismo e outros Fatores de Risco, Andrea Reis, e o pesquisador da Divisão de Pesquisa Populacional, André Szklo, representando o Instituto Nacional de Câncer (Inca), falam sobre os riscos do fumo, principalmente na adolescência, a importância da família na prevenção do consumo do cigarro e finalizam com dicas para abandonar o vício. Confira:
JORNAL DA ASSPROM: Instituído por Lei Federal em 1986, o Dia Nacional de Combate ao Fumo, comemorado em 29 de agosto, tem o objetivo de conscientizar a população sobre os riscos do uso de produtos derivados do tabaco. Qual a relevância desta data?
INCA: Criado em 1986 pela Lei Federal nº. 7.488, o Dia Nacional de Combate ao Fumo, tem como objetivo reforçar as ações nacionais de sensibilização e mobilização da população brasileira para os danos sociais, políticos, econômicos e ambientais causados pelo tabaco. Esta foi a primeira legislação em âmbito federal relacionada à regulamentação do tabagismo no Brasil. Estava inaugurada, de forma ainda tímida, a normatização voltada para o controle do tabagismo como problema de saúde coletiva.
É importante ressaltar que foi em meados da década de 80 que o consumo de cigarros pela população brasileira atingiu o seu maior patamar. No final desta mesma década, o primeiro inquérito nacional sobre saúde revelou que 32,4% dos brasileiros acima de 15 anos de idade consumiam cigarros ou outros produtos derivados do tabaco (Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição/PNSN, 1989).
De acordo com a Lei: “O Poder Executivo, através do Ministério da Saúde, promoverá, na semana que anteceder aquela data, uma campanha de âmbito nacional, visando a alertar a população para os malefícios advindos com o uso do fumo”. Desde então, o Ministério da Saúde — por meio do INCA tem realizado ações de conscientização para celebrar a data.
JORNAL DA ASSPROM: O público atendido pela Assprom são adolescentes e jovens entre 16 e 21 anos. A maioria dos usuários de cigarro começa o uso na adolescência, com graves consequências para sua saúde a longo prazo. Os adolescentes e jovens realmente são mais vulneráveis ao contato e a iniciação na dependência do cigarro?
INCA: Com o objetivo de conquistar espaço na sociedade e de satisfazer a necessidade de pertencer e ser aceito pelo grupo, acabam fazendo escolhas equivocadas que podem inclusive prejudicar a própria saúde.
A imagem do cigarro como “fruto proibido” estimula o desejo do adolescente e do jovem de “transgredir”, e suas principais motivações para fumar são o desejo de se afirmar como adulto e de se firmar no grupo. Em razão do seu modo de ser e das suas formas de se comportar, os adolescentes tornam-se mais vulneráveis às estratégias da indústria tabagista e à publicidade.
O cigarro e o álcool são drogas lícitas que fazem tão mal quanto as drogas ilícitas. O uso de produtos derivados de tabaco e, consequentemente, a dependência à nicotina, que se estabelece no jovem consumidor, podem favorecer a aquisição de outros comportamentos pouco saudáveis. A utilização da nicotina é considerada por muitos estudiosos como sendo a “porta de entrada” para o uso de drogas ilícitas.
JORNAL DA ASSPROM: De acordo com o estudo realizado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID), o uso inicial de tabaco é bastante precoce na vida dos estudantes da rede pública de ensino, sendo que, entre 10 e 12 anos de idade, cerca de 11,6% já fizeram pelo menos uso experimental do cigarro. Nesse mesmo trabalho foi observado que 6% dos adolescentes são usuários frequentes do tabaco. O primeiro cigarro é suficiente para levar adolescente ao vício?
INCA: Não necessariamente. Mas é a porta principal de entrada uma vez que uma parte dos jovens que experimentam não evoluem para o consumo mais frequente.
JORNAL DA ASSPROM: Existem fatores mais determinantes que levam as pessoas ao uso do cigarro?
INCA: Dependendo da suscetibilidade individual, alguns fatores serão decisivos para estimular o indivíduo atender a essa tendência humana de buscar nas drogas o alívio para suas tensões, tais como a aceitação social de uma determinada substância, seu fácil acesso, uso da droga por pessoas que tenham papel de modelos de comportamento. Portanto, a sociedade pode contribuir de maneira significativa para que o uso seja estimulado, causando adoecimentos em larga escala.
No caso do tabagismo vale destacar o papel que a publicidade exerceu e exerce na adoção do consumo de derivados do tabaco, especialmente cigarro. A publicidade veiculada pelas indústrias aliou as demandas sociais e as fantasias dos diferentes grupos (adolescentes, jovens, mulheres, faixas economicamente mais pobres e com menor nível de escolaridade, entre outras.) ao uso do cigarro. A manipulação psicológica embutida na publicidade de cigarros procura criar a impressão, principalmente entre os adolescentes e jovens, de que o tabagismo é muito mais comum e socialmente aceito do que é na realidade. Para isso, utiliza a imagem de ídolos e modelos de comportamento de determinado público-alvo, portando cigarros ou fumando-os, ou seja, uma forma indireta de publicidade que ainda tem forte influência no comportamento tanto dos adolescentes e jovens quanto dos adultos.
Além disso, pais ou responsáveis, parentes, professores, ídolos e amigos também exercem uma grande influência. O consumo de tabaco pelos pais ou responsáveis e a atitude permissiva desses diante do uso por seus filhos promovem a aceitação social do tabaco entre as crianças, adolescentes e jovens e contribuem para incentivar o uso.
Outro fator que pode explicar o grande número de adolescentes fumantes é a venda ilegal de cigarros e outros produtos derivados do tabaco a menores de 18 anos. Dados da Vigilância do Tabagismo em Escolares (VIGESCOLA, 2002 – 2009) informam que a maioria dos adolescentes que participou da pesquisa afirmou nunca ter sido impedida de comprar cigarros em lojas em função da idade. Além disso, quanto à forma de aquisição do cigarro (por unidade ou por maço), chama atenção a alta prevalência de adolescentes que compraram cigarro por varejo (unidade) de forma ilegal, em todas as cidades analisadas. Esses fatores podem estar contribuindo para a experimentação do cigarro e o início do fumo entre os adolescentes.
JORNAL DA ASSPROM: Quais são as principais implicações na saúde das pessoas, no consumo do cigarro desde a adolescência?
INCA: O tabagismo é reconhecido como uma doença crônica causada pela dependência à nicotina presente nos produtos à base de tabaco. De acordo com a Revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10), o tabagismo integra o grupo de transtornos mentais e comportamentais em razão do uso de substância psicoativa.1 Ele também é considerado a maior causa evitável isolada de adoecimento e mortes precoces em todo o mundo.
O tabagismo constitui fator de risco para o desenvolvimento dos seguintes tipos de câncer: leucemia mielóide aguda; câncer de bexiga; câncer de pâncreas; câncer de fígado; câncer do colo do útero; câncer de esôfago; câncer de rim e ureter; câncer de laringe (cordas vocais); câncer na cavidade oral (boca); câncer de faringe (pescoço); câncer de estômago; câncer de cólon e reto; câncer de traquéia, brônquios e pulmão.
Além de estar associado às doenças crônicas não transmissíveis, o tabagismo também é um fator importante de risco para o desenvolvimento de outras enfermidades, tais como doenças cardiovasculares, tuberculose, infecções respiratórias, úlcera gastrintestinal, impotência sexual, infertilidade em mulheres e homens, osteoporose, catarata, entre outras.
Crianças e bebês são particularmente mais suscetíveis ao tabagismo passivo e com risco aumentado de desenvolver doenças respiratórias, doença do ouvido médio e a síndrome da morte súbita infantil.
Mulheres grávidas expostas ao tabagismo passivo correm maior risco de natimorto, malformações congênitas e feto com baixo peso ao nascer. Não há nível seguro de exposição ao tabagismo passivo e a única maneira de proteger adequadamente fumantes e não fumantes é eliminar completamente o tabagismo em ambientes fechados.
JORNAL DA ASSPROM: Qual a importância da família na prevenção do consumo de cigarro pelos jovens e adolescentes?
INCA: A família é a base de sustentação do adolescente. Propiciar conversas francas sobre o tema, desestimular o uso de tabaco sob qualquer forma e, em caso de pais fumantes, buscar tratamento para parar de fumar são ações fundamentais para termos uma geração livre de tabaco.
JORNAL DA ASSPROM: As pessoas estão fumando mais neste momento de pandemia em que estamos vivendo?
INCA: Muitos fatores como o aumento do estresse, isolamento, depressão, incerteza quanto ao futuro podem gerar na população a aquisição de comportamentos não saudáveis. Entretanto, com toda a ampla divulgação realizada nas grandes mídias sobre a relação entre tabagismo e covid-19, como por exemplo o agravamento dos sintomas da Covid; gerou uma janela de oportunidade para que muitos fumantes buscassem ajuda para parar de fumar. Temos relato de diferentes experiências de atendimento a distância e atualmente, devido a grande procura pelo tratamento do fumante, muitas unidades de saúde estão voltando a realizar o atendimento presencial, dentro de todas as normas de segurança recomendadas.
JORNAL DA ASSPROM: Quais são os prejuízos causados pelo tabagismo? E os benefícios para quem para de fumar?
INCA: No Brasil, 428 pessoas morrem por dia por causa da dependência a nicotina, sendo que 156.216 mortes anuais poderiam ser evitadas.
Os dados da pesquisa Carga das Doenças Tabaco Relacionadas para o Brasil/ 2011 foram atualizados e seus resultados apontaram que no ano de 2015, o tabagismo gerou custos para assistência médica associados ao tabagismo no Brasil em quase 40 bilhões de reais, o que equivale a 8,04% de todo o gasto em saúde, e os custos indiretos atingiram mais de 17 bilhões de reais, devido à produtividade perdida por morte prematura e incapacidade.
Os resultados totais apontam uma perda anual de 57 bilhões de reais, equivalente a 0,96% do PIB nacional. Em contrapartida a arrecadação fiscal total pela venda de produtos de tabaco e derivados alcançou em 2015, o valor aproximado a 13 bilhões de reais, um montante que cobre somente 33% dos custos diretos causados pelo tabagismo ao sistema de saúde
O maior peso é dado pelo câncer, doença cardíaca e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Das mortes anuais causadas pelo uso do tabaco: 34.999 mortes correspondem a doenças cardíacas; 31.120 mortes por DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica); 26.651 por outros cânceres; 23.762 por câncer de pulmão; 17.972 mortes por tabagismo passivo; 10.900 por pneumonia; 10.812 por AVC (acidente vascular cerebral).
Benefícios:
Parar de fumar sempre vale a pena em qualquer momento da vida, mesmo que o fumante já esteja com alguma doença causada pelo cigarro, tais como câncer, enfisema ou derrame. A qualidade de vida melhora muito ao parar de fumar. Veja o que acontece se você parar de fumar agora:
- Após 20 minutos, a pressão sanguínea e a pulsação voltam ao normal.
- Após 2 horas, não há mais nicotina circulando no sangue.
- Após 8 horas, o nível de oxigênio no sangue se normaliza.
- Após 12 a 24 horas, os pulmões já funcionam melhor.
- Após 2 dias, o olfato já percebe melhor os cheiros e o paladar já degusta melhor a comida.
- Após 3 semanas, a respiração se torna mais fácil e a circulação melhora.
- Após 1 ano, o risco de morte por infarto do miocárdio é reduzido à metade.
- Após 10 anos, o risco de sofrer infarto será igual ao das pessoas que nunca fumaram.
Quanto mais cedo você parar de fumar menor o risco de adoecer.
JORNAL DA ASSPROM: A Organização Mundial de Saúde afirma que o tabagismo deve ser considerado uma pandemia, já que, atualmente, morrem, no mundo, cinco milhões de pessoas, por ano, em consequência das doenças provocadas pelo tabaco, o que corresponde a aproximadamente seis mortes a cada segundo. Do total de mortes ocorridas, quatro milhões são no sexo masculino e um milhão no sexo feminino. No ano de 2025, ocorrerão 10 milhões de mortes decorrentes do uso do tabaco, se não houver mudança nas prevalências atuais de tabagismo. Quais são essas mudanças?
INCA: A Organização Mundial da Saúde aponta que o tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas por ano. Mais de 7 milhões dessas mortes resultam do uso direto desse produto, enquanto cerca de 1,2 milhão é o resultado de não-fumantes expostos ao fumo passivo. A OMS afirma ainda que cerca de 80% dos mais de um bilhão de fumantes do mundo vivem em países de baixa e média renda onde o peso das doenças e mortes relacionadas ao tabaco é maior.
Mudanças: implementação dos artigos da Convenção Quadro para o Controle do Tabaco QCT. Este é o primeiro tratado internacional de saúde pública da história da Organização Mundial da Saúde. Representa um instrumento de resposta dos 192 países membros da Assembleia Mundial da Saúde à crescente epidemia do tabagismo em todo mundo.
O objetivo da Convenção-Quadro da OMS é “proteger as gerações presentes e futuras das devastadoras consequências sanitárias, sociais, ambientais e econômicas geradas pelo consumo e pela exposição à fumaça do tabaco”. Para isso, traz medidas de redução da demanda e da oferta de produtos de tabaco.
Para garantirmos mudanças positivas, no controle dessa pandemia, deveria haver o cumprimento no maior grau de efetividade das medidas recomendadas como: ampliação do tratamento do fumante, elevação de preços e impostos, fiscalização das leis pró controle do tabaco existentes, redução da interferência da indústria do tabaco
Vale ressaltar que a meta da OMS é reduzir em 30% a prevalência de tabagismo dos países entre 2019 e 2025.
JORNAL DA ASSPROM: Em contrapartida, dados inéditos do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) mostraram que o perfil dos tabagistas vem mudando ao longo dos anos. Nos últimos 12 anos, a população entrevistada por eles reduziu em 40% o consumo do tabaco. Porque isso vem ocorrendo?
INCA: Desde o final da década de 1980, sob a ótica da promoção da saúde, a gestão e governança do controle do tabagismo no Brasil vêm sendo articuladas pelo Ministério da Saúde através do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), o que inclui um conjunto de ações nacionais que compõem o Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT).
O Programa tem como objetivo reduzir a prevalência de fumantes e a consequente morbimortalidade relacionada ao consumo de derivados do tabaco no Brasil seguindo um modelo lógico no qual ações educativas, de comunicação, de atenção à saúde, junto com o apoio a adoção ou cumprimento de medidas legislativas e econômicas, se potencializam para prevenir a iniciação do tabagismo, principalmente entre crianças, adolescentes e jovens; para promover a cessação de fumar; e para proteger a população da exposição à fumaça ambiental do tabaco e reduzir o dano individual, social e ambiental dos produtos derivados do tabaco. O PNCT articula a Rede de tratamento do tabagismo no SUS, o Programa Saber Saúde, as campanhas e outras ações educativas e a promoção de ambientes livres.
Em novembro de 2005, o Brasil ratificou a Convenção-Quadro da OMS para o Controle do Tabaco (CQCT/OMS),. A implantação do Programa Nacional de Controle do Tabagismo passa então a fazer parte da Política Nacional de Controle do Tabaco, que é orientada ao cumprimento das medidas e diretrizes da CQCT/OMS pelo país.
No decorrer de sua história e atualmente para a internalização da CQCT/OMS no setor saúde, o Ministério da Saúde e o INCA atuam em rede e desenvolvem ações juntos às equipes coordenadoras dos estados (secretarias estaduais de saúde e educação), que, por sua vez, multiplicam junto às equipes coordenadoras dos municípios (secretarias municipais de Saúde e Educação), para desenvolverem atividades de coordenação/gerência operacional e técnica do Programa. Estes últimos multiplicam as ações junto aos profissionais que atuam nas diferentes instituições envolvidas no controle do tabagismo e prevenção de câncer, como escolas, unidades de saúde, universidades, dentre outras.
Essa rede faz parte da rede nacional que atua na governança da Política Nacional de Controle do Tabaco a qual também envolve outros setores do Ministério da Saúde, de outros Ministérios e Secretarias do governo federal, assim como organizações não governamentais.
O somatório de ações e a grande capilaridade proporcionada pelo PNCT, faz com as medidas de controle do tabagismo alcancem o maior número de pessoas, possibilitando assim queda na prevalência.
JORNAL DA ASSPROM: O consumo de cigarros tem diminuído entre os mais jovens? Se positivo, quais medidas foram importantes para isso? Se negativo, o que mais precisa ser feito para diminuir o consumo?
INCA: Mais recentemente os dados sinalizam para um aumento de consumo. Precisamos garantir o cumprimento das medidas da CQCT como: aumento de preços e impostos de forma sistemática, fazer valer a proibição do uso de aditivos e sabores nos produtos derivados do tabaco, fiscalizar e garantir a proibição de venda a menores; fiscalizar e garantir o cumprimento as regras referentes aos pontos de venda, onde os produtos de tabaco são vendidos próximos de balas e doces, ampliar a restrição nos pontos de venda, proibir efetivamente a propaganda em meios digitais e outras.
JORNAL DA ASSPROM: Porque os dados entre algumas pesquisas sobre o tabagismo são tão divergentes?
INCA: Existem diferentes pesquisa, com metodologias diferenciadas, que abrangem populações diferentes, formas de perguntar diferentes; por isso temos resultados diferentes.
JORNAL DA ASSPROM: Vocês acreditam que a publicidade maciça do cigarro nos meios de comunicação de massa influencia as pessoas começarem a fumar?
INCA: A publicidade veiculada pelas indústrias aliou as demandas sociais e as fantasias dos diferentes grupos (adolescentes, jovens, mulheres, faixas economicamente mais pobres e com menor nível de escolaridade, entre outras.) ao uso do cigarro. A manipulação psicológica embutida na publicidade de cigarros procura criar a impressão, principalmente entre os adolescentes e jovens, de que o tabagismo é muito mais comum e socialmente aceito do que é na realidade. Para isso, utiliza a imagem de ídolos e modelos de comportamento de determinado público-alvo, portando cigarros ou fumando-os, ou seja, uma forma indireta de publicidade que ainda tem forte influência no comportamento tanto dos adolescentes e jovens quanto dos adultos. A publicidade direta era feita por veículos de comunicação de massa, por anúncios atraentes e bem produzidos, o que está proibido no Brasil desde 1996, através da Lei nº 9.294 de 15 de julho.
Apesar de proibida, a Industria do Tabaco encontra brechas tanto legislativas, como de fiscalização para expor seus produtos e assim conseguir novos consumidores. Um canal bastante utilizado ultimamente são as mídias digitais. A internet possui um vasto campo ainda a ser trabalhado no Brasil.
JORNAL DA ASSPROM: O Sistema Único de Saúde oferece tratamento gratuito para quem deseja parar de fumar, com medicamentos como adesivos, pastilhas, gomas de mascar (terapia de reposição de nicotina) e bupropiona. Esses tratamentos são eficazes?
INCA: Vide o estudo de custo efetividade realizado e para o Protocolo Clínico de Tratamento da Dependência da Nicotina. Pode acessar o protocolo na página da CONITEC, foi publicado este ano, e além disso utilizou metodologia grade para classificar as evidências: força e qualidade dos estudos científicos, é o que temos de mais recente (2020) em termos de protocolo clínico no Brasil.
JORNAL DA ASSPROM: Porque as ações de combate ao fumo são tão importantes?
INCA: Por tudo que já foi visto aqui antes. O tabagismo é um comportamento social adquirido através da propaganda e publicidade, além é claro dos modelos de comportamento. Ninguém nasce precisando fumar.
Precisamos cada vez mais esclarecer a população sobre esse importante fator de risco e controla-lo. Mais pessoas precisam ser tratadas para que haja cessação do tabagismo, mais pessoas precisam ser esclarecidas sobre essa droga para que haja menor iniciação. Saúde e tabaco não combinam.
JORNAL DA ASSPROM: Quais dicas vocês dão para as pessoas pararem de fumar?
INCA: Na verdade, estamos tratando de uma doença e quando se fala de doença não temos dicas, temos estratégias de tratamento.
Equivocadamente muitas pessoas acreditam que o tabagista é um “viciado”, “sem força de vontade”, “que não deixa de fumar porque não quer”. Não é isso. Na verdade, quem fuma sofre de dependência química, ou seja, é alguém que ao tentar deixar de fumar, se defronta com grandes desconfortos físicos e psicológicos que trazem sofrimento, e que pode impor a necessidade de várias tentativas até que finalmente consiga abandonar o tabaco. Entender o que acontece com o tabagista e suas tentativas de parar de fumar é fundamental para que se possa ter a real dimensão do problema.
É importante ressaltar aqui que o SUS oferece tratamento gratuito e especializado para tratar a dependência do tabaco. Sua abordagem se constitui com base na abordagem cognitivo comportamental, utilizando metodologia apropriada para se refletir sobre o comportamento de fumar. Aliado a isso, se necessário é oferecido apoio medicamentoso. Porém aconselhamos duas formas de parada do consumo de tabaco, a abrupta onde o fumante escolhe uma data para ser o seu primeiro dia sem cigarro. Este dia não precisa ser um dia de sofrimento e deve ser celebrado como uma ocasião especial, ou temos a estratégia de adiamento, onde o fumante vai adiando o horário do primeiro cigarro até que se consiga ficar 24h sem fumar.
O importante é estabelecer uma meta para parar de fumar. Não desanimar com as recaídas. Quanto mais tentar, maior a chance de conseguir. E os benefícios em saúde são muitos.
Fonte:
https://www.inca.gov.br/tabagismo
https://www.inca.gov.br/programa-nacional-de-controle-do-tabagismo
https://www.inca.gov.br/observatorio-da-politica-nacional-de-controle-do-tabaco
Sem Comentários