Novembro azul: campanha alerta homens sobre a importância do diagnóstico precoce
Entrevista exclusiva com Alex Araujo Simões, médico urologista da Rede Mater Dei de Saúde e da Clínica Personal Oncologia
O que é câncer de próstata?
Inicialmente, a próstata nada mais é que uma glândula localizada abaixo da bexiga, que envolve a uretra – canal por onde passa a urina – e é responsável pela produção de parte do sêmen, substâncias que nutrem os espermatozoides. O nome câncer de próstata refere-se a uma doença neoplásica maligna, caracterizada pela proliferação desordenada e descontrolada das células da próstata. Essa proliferação pode se manifestar como um tecido anormal na glândula prostática, podendo haver ou não o surgimento de nódulos. O tecido anormal pode crescer e invadir as estruturas ao redor da próstata – bexiga, reto e os ureteres. Pode ocorrer ainda, a disseminação à distância, atingindo órgãos como os ossos ou o fígado, por exemplo. São as chamadas metástases.
Esse é o tipo de câncer mais comum entre os homens?
No Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais frequente entre os homens, ficando atrás, apenas, dos cânceres de pele não melanoma. A estimativa é de que, pelo menos, 68.000 novos casos sejam diagnosticados em 2018 – dados do Instituto Nacional do Câncer. Nos casos de diagnóstico precoce, as chances de cura chegam a 90%.
Quais são os fatores de risco?
Os principais fatores de risco são:
- Idade – quanto mais idoso o paciente maior as chances de manifestação dos tumores de próstata
- Histórico familiar – Principalmente familiares de primeiro grau
- Raça Negra
- Obesidade
E sobre os exames anuais, que os homens devem fazer. Qual é a recomendação?
A recomendação é de que os homens, que possuam fatores de risco como idade, histórico familiar, raça negra e obesidade, iniciem os exames de triagem do câncer de próstata, a partir dos 45 anos. Para os demais homens, sem fatores de risco, a triagem deve se iniciar aos 50 anos.
A combinação dos exames – toque retal e o exame de sangue PSA – aumenta as taxas de detecção da doença, se comparado aos exames isolados. Há casos de câncer com PSA baixo e nódulos palpáveis, que passariam desapercebidos sem o toque retal. Por outro lado, há casos de toque normal, sem nódulos, mas com elevação suspeita dos níveis do PSA. São exames que se complementam e a periodicidade deve ser discutida com o urologista.
E os sintomas, quais são?
O câncer de próstata, em fase inicial, não tem sintomas e nem sinais típicos. É uma doença silenciosa e, por isso, os programas de triagem devem ser feitos mesmo que o paciente não apresente sintomas. Os casos avançados podem se manifestar com diminuição da força do jato urinário, sangramento na urina, dificuldade em iniciar a micção, dificuldade em esvaziar completamente a bexiga e dor ao urinar. Mas, são sintomas também presentes em doenças benignas da próstata e a avaliação do urologista pode definir do que se trata cada caso.
Se um homem perceber algum sintoma o que ele deve fazer? Quem deve procurar?
Geralmente, quando aparecem os sintomas urinários, secundários ao câncer de próstata, a doença está em estágio avançado. Mas, os sintomas urinários estão associados a outras doenças, também, como crescimento benigno da próstata, infecções ou tumores de bexiga, que devem ser investigadas e tratadas. Na presença de sintomas como jato urinário fraco, esforço ao urinar, gotejamento urinário após a micção, aumento da frequência noturna das micções, e sensação de esvaziamento vesical incompleto, o urologista deve ser consultado.
Existem formas de prevenção?
Não existem formas de prevenção específicas para o câncer de próstata. Mas, sabe-se que dietas balanceadas com diminuição da ingestão de gorduras, controle da obesidade e a prática de exercícios físicos, auxiliam na prevenção das neoplasias malignas, de maneira geral. O tabagismo deve ser combatido, pois é um importante fator desencadeador de vários tumores. Em resumo, adotar hábitos de vida saudáveis.
Quais são as principais opções de tratamento para esse tipo de câncer?
A base do tratamento é a remoção radical da próstata, que pode ser feita por via aberta tradicional ou pelas formas minimamente invasivas como a laparoscopia e, mais recentemente, a cirurgia robótica, com excelentes resultados. Além disso, o tratamento, também, pode ser realizado por meio de radioterapia dirigida à próstata, braquiterapia (tratamento que envolve radiação) e estratégias de seguimento clínico apenas para casos selecionados. Cada caso deve ser considerado pelo urologista, que sugerirá o melhor tratamento para o paciente.
Ainda há muito preconceito quanto ao exame de toque?
Sim, mas observamos uma melhora neste aspecto. O tema é complicado para muitos pacientes que insistem em não fazer o exame de toque retal. Essa prática acaba por atrasar a triagem e faz com que lesões iniciais e indolentes evoluam para quadros avançados e, eventualmente, fora de possibilidade curativa. O toque retal não previne a doença, apenas nos auxilia no diagnóstico precoce e, assim, possibilita o aumento das chances de cura.
De que forma o senhor acredita que podemos contribuir para a prevenção do câncer do próstata?
Levando informação aos pacientes, assim como essa entrevista. O Novembro Azul é uma estratégia bem-sucedida para chamar atenção para o problema de forma mais contundente, ao longo de todo o mês. A informação do que é, de como e quando fazer o exame de próstata auxilia neste processo de adesão dos pacientes. Além disso, o urologista é a porta de entrada de muitos homens no Sistema Único de Saúde (SUS), o que possibilita adotar outras medidas preventivas, como orientações quanto ao câncer de cólon, níveis pressóricos, ‘deslipidemis’, obesidade, entre outros males.
Algumas pesquisas apontam a relação existente entre o câncer de próstata agressivo e a obesidade. Isso procede?
Há algumas justificativas para este achado. A primeira é que o diagnóstico da doença é dificultado em obesos. O exame digital da próstata pode ser de difícil execução e prejudica o diagnóstico precoce. A segunda justificativa seria as substâncias produzidas pela gordura que atuam nas células e alteram a agressividade celular. Tudo isso sem contar nas dificuldades técnicas cirúrgicas, associada a pacientes obesos.
De que forma a esposa, namorada ou companheira pode ajudar o homem a se prevenir contra o câncer de próstata?
A companheira desses pacientes tem um papel fundamental na promoção da triagem do câncer de próstata. As mulheres são mais cuidadosas com as questões de saúde e são elas que, muitas vezes, agendam as consultas, estimulam e acompanham os homens neste momento, sendo parte importante no processo de diagnóstico da doença. O estímulo e apoio da mulher ajudam a combater o preconceito e auxiliam o trabalho dos médicos.
O Novembro azul existe, no Brasil, desde 2011. Ao longo dos anos, os homens se tornaram mais conscientes quanto à sua saúde?
Sem dúvidas. Isso pode ser visto pelo aumento do número de casos detectados da doença. Em parte, esse fato se deve a maior conscientização dos homens soabre a importância da realização dos exames de forma mais precoce e mais disseminada, aumentando as taxas de detecção e de cura.
De que forma é feita a promoção do Novembro azul?
A Sociedade Brasileira de Urologia promove a divulgação do Novembro Azul por meio de jornais, revistas e redes sociais. Há ainda, um apoio a todas as empresas e veículos que desejam divulgar o programa, a fim de ampliar o alcance da campanha e sensibilizar ainda mais homens quanto à prevenção.
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